Embora a expressão e o conceito de artes liberais tenha se originado na Antiguidade, foi nas universidades da Idade Média que ela adquiriu seu alcance e significado atuais, bem como o
número de disciplinas que a compõem
Na Idade Moderna, as artes liberais eram consideradas as disciplinas próprias para a formação
de um homem livre, desligadas de toda preocupação profissional, mundana ou utilitária.
Contrapõem-se às artes mecânicas, ou seja, às disciplinas não diretamente relacionadas a
interesses imateriais, metafísicos e filosóficos, mas estritamente técnicos (voltados à produção
de utilidades que sirvam às necessidade cotidianas do homem).
O conceito de arte dado por Aristóteles -- "a capacidade de produzir com raciocínio reto", ou
ainda, "uma disposição suscetível de criação acompanhada de razão verdadeira" -- é capaz de
fornecer alguns elementos acerca do conceito de artes liberais que os homens da Antiguidade
e da Idade Média tinham.
Mediante o domínio das assim chamadas sete belas-artes, o homem seria capaz de produzir
obras e ideias com poder de elevar o espírito humano para além dos interesses puramente
materiais, rumo a um entendimento racional e livre da verdade.
Tradicionalmente, as sete artes liberais englobam, desde a Idade Média, dois grupos de
disciplinas: de um lado, o trivium e do outro, o quadrivium. O trivium concentra o estudo do
texto literário por meio de três ferramentas de linguagem pertinentes à mente. O quadrivium
engloba o ensino do método científico por meio de quatro ferramentas relacionadas à matéria
e à quantidade.
O Trivium
Etimologicamente
Trivium significa: "o cruzamento e articulação de três ramos ou caminhos". Esse grupo de disciplinas incluía a lógica (ou dialéctica), a gramática e a retórica. As artes
do trivium teriam como objetivo prover disciplina à mente, para que esta encontre expressão
na linguagem, especialmente no que se refere ao estudo da matéria e do espírito. De acordo
com definições clássicas, a matéria teria como característica essencial o número e a
extensão, temas analisados respectivamente pela aritmética e pela música, bem como pela
geometria e astronomia (ou astrologia clássica). Segundo esta mesma definição, o espírito
teria como caractere essencial o número.
O Quadrivium
O quadrivium, etimologicamente o cruzamento de quatro ramos ou caminhos está voltado
para o estudo da matéria, por meio do domínio das seguintes disciplinas: aritmética (a teoria
do número); em música (a aplicação da teoria do número), em geometria (a teoria do espaço)
e em astronomia (a aplicação da teoria do espaço).
No âmbito do quadrivium, a música é entendida como o estudo dos princípios musicais, tais
como harmonia, não podendo ser confundida com a música instrumental aplicada (uma das
sete belas-artes). O objetivo destas artes ditas "da quantidade" era prover meios e métodos
para o estudo da matéria, sujeitos a aprimoramento no âmbito das disciplinas ditas superiores.
As Cinco Virtudes Intelectuais
De acordo com os postulados da educação clássica e medieval, assim como a linguagem é
normalizada pelas artes da linguagem, o intelecto é aperfeiçoado pelas assim chamadas cinco
virtudes intelectuais, sendo duas práticas e três teóricas - a saber: compreensão, ciência,
sabedoria, prudência e arte.
Segundo definições clássicas, a compreensão é o captar intuitivo dos princípios primordiais (o
pensamento lógico e a investigação lógica); a ciência é o conhecimento das causas mais
prováveis; a sabedoria é a compreensão das causas ditas fundamentais; a prudência é o
pensamento coerente concernente às ações e, por fim, a arte é o pensamento aplicado à
produção e à capacidade de produzir.
“Tendo como fundamento essas escolas que funcionavam no Templo, pode-se entender porque um aprendiz dos ensinos do Rei Salomão deve: falar pouco e bem (gramática e retórica), exprimindo a verdade (lógica); deve saber contar e medir seu pensamento, seus projetos e ações (aritmética e geometria), vivendo em harmonia com seus semelhantes (música), mantendo-se humilde diante do Grande Arquiteto Universal, mirando-se no exemplo de atração e harmonia existente entre os astros (astronomia)”.
O ensino das artes liberais no templo de Salomão datando então de mais de 900 a.C., sendo o templo de Salomão a primeira escola e universidade organizada e a provável origem das sete artes liberais e, provavelmente até de outras ciências, como as citadas botânica, zoologia e a própria filosofia. Naquela época já havia comunicação entre todo o mundo conhecido e não é difícil imaginar que no templo de Salomão se aperfeiçoou artes antigas e se originou possivelmente outras tantas. E que estas mesmas fossem preservadas no Egito, na Mesopotâmia e na Grécia e também na transmissão oral como a tradição judaica e sufi, respectivamente de hebreus e árabes. Para Hugo de São Vitor o Egito é a mãe das artes liberais e, de lá que foram posteriormente para a Grécia por volta do século V e IV antes de Cristo. Tales, Pitágoras e Parmênides provavelmente beberam da fonte egípcia e criaram os primeiros centros de ensino da Grécia, onde eram transmitidos as artes liberais e os ensinamentos destes mestres de forma oral e sem salas de aula, como hoje.
De acordo com Hugo de São Vitor em seu livro Didascalicon, a astronomia era atribuída à Cam, filho de Noé, sendo os primeiros a ensinar astrologia os Caldeus. Josefo esculpiu Abraão como o fundador da astrologia no Egito. Os antigos egípcios atribuíam a origem desta ciência ao Toth, conhecido também como Hermes na tradição grega e Mercúrio na romana. Alguns gregos atribuíam a origem da astrologia a Zoroastro ou Zaratrustra, que viveu na Assíria (depois conhecida como Pérsia e hoje Irã), foi o fundador da ordem dos magos (sim, a mesma que pertencia os três reis magos!) e de onde se originou uma das mais antigas religiões: o zoroastrismo. Escreveu um dos textos mais antigos que se tem notícia, o Gâtha, que é parte do Avesta, livro sagrado do zoroastrismo. Sabe-se pouco de sua vida e de quando viveu, mas os gregos estimam que vivera há cerca de 6000 antes de Platão, mas comparando outras fontes que são bem controversas, parece ser um exagero. O Gâtha é datado em termos linguísticos no século XIV ou XIII a.C.