quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Antonio Gramsci



O GRANDE FILHO DA PUTA



O filósofo italiano Antonio Gramsci é tido como um dos mais importantes formuladores comunistas. Não está fora de questão que seja o mais importante. Esse sardo franzino, casado com uma russa, nascido em 1891, chegou a trabalhar com Mussolini na redação do jornal socialista italiano “Avanti!”, em 1915. Foi preso por ação do mesmo Mussolini em 1926, e condenado a vinte anos de prisão. Recebeu liberdade condicional por motivo de saúde e morreu em uma clínica romana em 1937. 

Na prisão escreveu suas reflexões, publicadas no Brasil pela editora Civilização Brasileira, na década de 1970, com o título de “Cadernos do Cárcere” (quatro volumes). Não são fáceis de ler. Gramsci escrevia quase que em código, para que os censores não confiscassem suas “lições”, que saíam da prisão por uma sua cunhada, funcionária da embaixada soviética em Roma.

Tomar o Estado significa apenas tomar uma fortaleza avançada. Atrás dela estão inúmeras “trincheiras e casamatas” não neutralizadas. Re­fe­ria-se às organizações burguesas co­mo igreja, sindicatos, universidades, imprensa. Não se pode fazer, para tomar estas sociedades, a “guerra de movimento”, que teve sucesso na Rússia. É preciso fazer uma “guerra de posição”, desgastar essas trincheiras e casamatas, neutralizá-las para que, tomado o Estado, se tenha também o poder, e não surjam resistências. É preciso que o proletariado seja “hegemônico” sobre as demais classes, que exista o “consenso” sobre sua visão de mundo. Essa visão, evidentemente, é a comunista. Gramsci usava as imagens da Primeira Guerra Mundial. No que consistia conquistar essa hegemonia: organizar o partido das classes oprimidas (proletariado, campesinato e demais “excluídos” da sociedade burguesa), formar dirigentes, organizar entidades não estatais de apoio, fazer alianças ainda que com partidos ou entidades adversárias, conquistar posições nos organismos da sociedade civil burguesa e nos órgãos estatais (fase econômico-corporativa). Depois, lutar efetivamente pela hegemonia das classes subalternas sobre a classe dominante. Os valores tradicionais das classes burguesas deveriam ser pacientemente destruídos, e substituídos pela nova “visão da sociedade e do mundo”. Valores culturais deveriam ser contestados e apontados outros, mais de acordo com a visão das classes dominadas, e de molde a permitir a ascensão destas.
  • As polícias seriam sempre acusadas de truculência, violência e corrupção, enquanto a marginalidade deveria ser alvo da proteção dos direitos humanos e da tolerância, por pertencer à classe subalterna. Se o bandido age à margem da lei é apenas por falta de opções, sendo a marginalidade fruto, pois, da injustiça social e da exclusão burguesa. Nada mais justo, pois, que os burgueses sofram na pele, sem reclamar, o castigo de serem “expropriados” de seus bens, e até às vezes “justiçados” pelos “excluídos”.
  • A Igreja Católica deveria ser lembrada por suas falhas, como a pedofilia, a riqueza e o alinhamento com a aristocracia. Não se deveria falar nas suas qualidades, como as modelares instituições de ensino e caridade. Os padres “socialistas” deveriam ser tratados como santos, exaltados como portadores de todas as virtudes. As minorias deveriam ser despertadas para a marginalização a que foram sujeitas e seriam chamadas à vingança contra a dominação burguesa, fossem minorias raciais, étnicas ou sexuais.
  • Todo o sistema capitalista deveria ser demonizado: os fazendeiros como latifundiários exploradores de mão de obra escrava, depredadores da natureza; os industriais como gananciosos apropriadores da mais valia e sonegadores; os banqueiros como parasitas especuladores; os órgãos de imprensa como vendidos ao capital nacional e estrangeiro.
  • Os intelectuais tradicionais deveriam ser cooptados, e os intelectuais da “classe”, os dito orgânicos (isto é, todos os cidadãos que fossem inteiramente obedientes ao partido), deveriam ser estimulados a um incessante trabalho de convencimento e doutrinação (fase da hegemonia). Numa última fase, neutralizados os organismos burgueses da sociedade civil, quando a sociedade já aceita a imposição de novos valores culturais, éticos e morais, já não mais tem mecanismos de reação, é hora de tomar o poder, instituir o socialismo e caminhar para a etapa final, o comunismo (fase estatal).


Gramsci acreditava, diferente de Marx, que antes de tomar o poder era preciso tomar todos os órgãos culturais, instituições de ensino e demais meios para construir uma hegemonia. O “historicismo absoluto”, um marxismo fortemente impregnado de pragmatismo, reduz toda atividade cultural, artística e científica à expressão dos desejos coletivos de cada época, abolindo os cânones de avaliação objetiva dos conhecimentos e instaurando em lugar deles o critério da utilidade política e da oportunidade estratégica.


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